domingo, 8 de julho de 2012

Raymond Murray Schafer


Em relação a Murray Schafer, destaco os documentos que seguem em anexo, desenvolvidos e apresentados por mim no decorrer da aula realizada no dia 21 de Abril de 2012.

O PowerPoint está dividido em três capítulos: a biografia; o pensamento; a pedagogia.


Na biografia é de realçar o Projeto Paisagem Sonora Mundial (The World Soundscape Project), surgido a partir de um grupo de pesquisa educacional com ênfase na ecologia acústica. O objetivo era chamar a atenção para a proliferação de ruídos. De facto, Schafer tinha o desgosto pela poluição sonora que vinha transformando rapidamente de Vancouver. A sua preocupação era alertar para os efeitos prejudiciais dos sons tecnológicos sobre os homens.
Em relação ao pensamento, desenvolvido a partir do World Soundscape Project, podemos afirmar que para Schafer, a capacidade de escuta se está deteriorar de maneira alarmante e que uma multidão de novos sons passaram desde a revolução industrial a habitar o ambiente acústico. Com os sons das máquinas cada vez mais presentes no cotidiano, houve uma transformação significativa na sonoridade dos espaços sonoros, principalmente na zona urbana.
Preocupado com os sons do mundo, sejam eles materiais musicais convencionais, sejam eles o canto dos pássaros ou o som de um engarrafamento urbano, pretende numa certa visão mística, “considerar a paisagem sonora mundial como uma imensa composição musical”. De facto, pretende, de certa forma, reencontrar o “segredo da afinação” (Schafer, 1977: 22), em que Deus tenha sido o “engenheiro acústico de primeira classe” (Schafer, 1977: 290) e assim restituir na paisagem sonora mundial uma sonoridade ordenada por mão divina.

Murray Schafer desenvolveu a sua teoria pedagógico-musical, a partir de experiências. De facto, a sua proposta consiste numa investigação experimental, que gerou princípios que ele chamou de Educação Sonora. Os seus exercícios ilustram as experiências com os seus estudantes e enquadram-se nas primeiras tentativas de introduzir nas escolas os conceitos de audição criativa e de consciência sensorial preconizadas por Cage.
Desde o início, muito antes de qualquer instrução formal Schafer tenta que a entusiasta descoberta da música preceda a habilidade de tocar um instrumento ou de ler notas. A notação musical é algo de complicado e para dominá-lo são necessários anos de treino. No início, cada aluno faz a sua notação, o momento indicado para produzir as habilidades processuais é quando a criança pergunta por elas.
Nas aulas de música está sempre presente o lúdico. O objetivo principal é procurar que os alunos se expressem através do som, com liberdade e imaginação. Destaca a importância da liberdade de improvisar e criar enquanto processo de descoberta.
A importância de ensinar música às crianças radica na possibilidade de formar uma geração que recupere uma capacidade inerente à sua natureza como é a de reconhecer e desfrutar os diversos sons do seu envolvimento. Mais do que isso, ser capaz de criar música com os sons e intervir até no desenho de uma paisagem acústica.
Uma tarefa essencial dos educadores musicais deveria ser de inventar uma notação que possam ser dominadas rapidamente, para não retirar o prazer da criação musical.
Schafer não propõe o ensino da música como um caminho especializado e separado de toda a experiência humana. Compartimentar o ensino das artes é uma fragmentação da experiência e pode converter-se numa experiência traumática. Schafer propõe uma educação artística integral e globalizante, onde possa existir uma genuína explosão criativa da sensorialidade.


O Vídeo apresenta as bases gerais do seu pensamento:

 
No seu livro “O Rinoceronte na Sala de Aula”, Schafer apresenta 10 “máximas dos educadores” muito interessantes, que demonstram as inclinações educacionais de Schafer, preceitos contemporâneos que devem ser utilizados em música, mas podem facilmente ser transportados para as outras áreas da educação.

1.        O primeiro passo prático, em qualquer reforma educacional, é dar o primeiro passo prático.
2.        Na educação, fracassos são mais importantes que sucessos. Nada é mais triste que uma história de sucessos.
3.        Ensinar no limite do risco.
4.        Não há mais professores. Apenas uma comunidade de aprendizes.
5.        Não planeies uma filosofia de educação para os outros. Planeia uma para ti mesmo.
6.        Para uma criança de cinco anos, arte é vida e vida é arte. Para uma de seis, arte é arte e vida é vida. O primeiro ano escolar é um divisor de águas na história da criança: um trauma.
7.        A proposta antiga: o professor tem a informação; o aluno tem a cabeça vazia. Objetivo do professor: empurrar a informação para dentro da cabeça vazia do aluno.
8.        Ao contrário, uma aula deve ser uma hora de mil descobertas. Para que isso aconteça, professor e aluno devem em primeiro lugar descobrir-se um ao outro.
9.        Por que são os professores os únicos que não se matriculam nos seus próprios cursos?
10.     Ensinar sempre provisoriamente: Deus sabe com certeza.

Sérgio Aschero



Na aula em que trabalhamos Murray Schafer, deu-se uma feliz coincidência, a questão da escrita alternativa à escrita tradicional. De facto, tal como Schafer, para quem, a notação musical é algo de complicado e para dominá-lo são necessários anos de treino, Sérgio Aschero acredita que a notação musical é um complexo sistema de codificação gráfica, totalmente, exterior aos símbolos da vida quotidiana. Assim, Sérgio Aschero, confrontado com a impossibilidade de ensinar música a uma tribo do interior do seu país natal, Argentina, após anos de investigação chega a este sistema, a numerofonia. Trata-se de um método alternativo de notação musical, que se baseia numa conjugação de cores, formas e números e é apresentado como alternativa acessível a todas as pessoas, a partir dos 3 anos de idade. O objectivo do seu fundador consistia em, melhorando da relação entre a música e os cidadãos, democratizar a literacia musical, uma vez que devido à sua complexidade, o sistema tradicional era apenas acessível a 5% da população.

Após anos de investigação, chegou a uma ligação entre a imagem e o som seguindo as seguintes relações:

FORMA – duração (perímetro de figuras geométricas e números inteiros ou fraccionários)
COR – altura (cor interna das figuras geométricas e números inteiros ou fraccionários)
TAMANHO – intensidade (longitude de figuras geométricas e números inteiros ou fraccionários)
VOLUME – timbre (forma, cor e tamanho em outra dimensão da escrita = corpo)

Em anexo (anexo 1) (anexo 2), podemos encontrar um exemplo de partitura em escrita numerofónica geométrica e em escrita numerofónica numérica, da suite nº 1 em sol maior, para solo de violoncelo de Johann Sebastian Bach.

Keith Swanwick


A partir desta entrevista (clique para ver) efetuada ao compositor Keith Swanwick, ficamos a conhecer as suas principais ideias em relação ao ensino da música, nomeadamente, a construção do seu pensamento e o seu modelo. Importante será referir que estas construções de Swanwick estão na base dos modelos curriculares do ensino da música no ensino básico. Afirma o compositor “o aprendizado musical guarda relação com a faixa etária. Cada uma corresponderia a um estágio de desenvolvimento”. Percebe-se bem, pela figura, nomeadamente na base, a ligação aos estádios de desenvolvimento de Piaget (processo de assimilação – acomodação). Para Swanwick, (1999) a atividade musical tem características próprias que, embora distintas de qualquer outra forma de discurso, se entrelaçam com as características psicológicas da teoria dos estádios de Piaget:
  • Primeiro estádio (até aos 4 anos) - sensorial, manipulativo (materiais): a sua marca principal são as experiências que as crianças são capazes de fazer através da exploração das possibilidades de produção de sons de cada instrumento;
  • Segundo estádio (dos 5 aos 9 anos) - pessoal, vernáculo (expressão): a manipulação alcançada permite à criança exprimir os seus sentimentos ou estados de ânimo, explorar mudanças de andamento, iniciar as primeiras composições, que apresentam influências do que costuma cantar, tocar e escutar;
  • Terceiro estádio (dos 10 aos 14 anos) - especulativo, idiomático (forma): as criações tornam-se mais variadas e surpreendentes num movimento especulativo. As variações passam a respeitar os padrões de algum estilo específico, muitas vezes o pop ou o rock, linguagens a partir das quais é possível estabelecer conexões com outros jovens;
  • Quarto estádio (a partir dos 15 anos) – simbólico (valor): é possível desenvolver um quarto estádio, que engloba os outros três, em que mantendo experiências musicais de alto nível, a música representa um valor importantíssimo e revela-se uma atividade significativa para a vida do adolescente, marcado mais por uma “relação emocional individual e menos por modismos passageiros ou algum tipo de consenso social”.
À pergunta sobre o que deve ser considerado no ensino da música nas escolas, Swanwick responde que os conteúdos devem ser trabalhos de maneira integrada. E acrescenta através do anúncio do seu modelo espiral CLASP – C de composition (composição), A de audition (audição), P de performance (experiência performativa, capacidade tocar), entremeadas pelo L de literature studies (estudos literários) e S de skill aquisition (habilidades ou técnicas).
Em Português, esse modelo é conhecido como modelo TECLA (técnica, execução, composição, literatura e apreciação). Swanwick acrescenta as vantagens deste modelo considerando que todos os aspetos do seu modelo são importantes. Permite ao professor perceber se está a demorar mais numa das letras, por exemplo L, descrevendo factos históricos. Dar demasiada importância à história da música é uma forma simplista de pensar que se está a ensinar música, pois história não é música. O mesmo acontece se permanecemos demasiado tempo na letra A, a ouvir música, não se está a produzir música.